Arquitetura interna

Sou paulista! Então dentro de mim, como na cidade, Existem grandes avenidas pavimentadas, Edifícios altos envidraçados, Retas intermináveis, viadutos e congestionamentos quilométricos, Mas também existem praças, parques e crianças brincando, Chuva, sol, poluição e garoa. Frio e calor, samba e tarantela. E shooooooopings de perder a conta!

Mas eu venho do interior, De brincar na terra durante as férias, na casa da minha Nona. De correr no meio do rancho de bicho de seda, De comer amora no pé, tangerina ponkam, manga e laranja. Jabuticaba, meu Deus! De esperar o pão doce assar no forno do quintal. De dar voltas no chafariz da praça da igreja sábado à noite.

Ai vim para a Bahia: Salvador e a Chapada, E foram entrando as praias, as montanhas e as cachoeiras. O sol, o calor, o vento, o povo, os cheiros, as cores, os sabores. As retas foram dando lugar às curvas, As avenidas foram dando vez às ladeiras, As torres de vidro, abrindo espaço aos casarões históricos, O moderno e conhecido em mim, Deixando que o antigo, como novo entrasse, E se misturasse, criando uma nova arquitetura interna. Abrindo possibilidades para que cada paisagem nova Encontrasse lugar em meu mapa de vida.

E subindo fui encontrando Aracaju, Maceió, Recife, Olinda… Com praias lindas, azuis profundos, rios internos, festa, calor e cor. E descendo achando Portos Seguros, Belos Horizontes e Rios de Janeiros; Com seus povos especiais, doces maravilhosos e beleza sem fim. Fazendo de mim uma miscelânea de gentes e formas Que não sabe mais por onde se começa ou termina.

E ainda existe a metade italiana, um pedaço negro, outro índio… Que de vez em quando falam pelas minhas mãos, dançam com meus pés… Cantam como que em bosques ou florestas encantadas. Desenhando essa Eu que muda todo dia, Dependendo de quem acorda primeiro!